segunda-feira, 13 de julho de 2015

A ORIGEM DO MAL



           Um aluno do Seminário fez uma excelente pergunta para mim sobre a origem do mal! Esse tema sempre foi e creio que será até a consumação, o assunto mais polêmico dentro da teologia. Por quê? Por que não encontramos explicações que a nossa razão possa suportar! Veja que propositalmente digo: que nossa razão possa suportar! Não creio que existam contradições nas revelações bíblicas sobre essa questão, apenas entendo que ainda não somos capazes de assimilar o paradoxo: Deus é bom, mas porque o mal existe? Muitos bons teólogos ortodoxos têm buscado diretrizes bíblicas e logicas, dentro da nossa lógica, para a melhor compreensão desse assunto. Todavia, todos esses teólogos reconhecem a impossibilidade de compreender o tema! O que todos dizem é que precisamos firmar nossas convicções em duas verdades fundamentais reveladas nas Escrituras: 1. Deus é bom e soberano; 2. O mal existe desde o principio, mas não é independente de Deus, ao mesmo tempo em que, o Senhor não é o causador dele. É realmente impossível conciliar esses pressupostos em nossa mente finita, todavia, é isso que a Bíblia ensina.
            Teólogos liberais e filósofos racionalistas apresentam suas opiniões sobre a mal, existência essa que não pode ser negada por nenhum corrente de pensamento. Um desses pensadores que citarei é um teólogo liberal católico, Ándreas Torres Queiruga, que ao falar sobre o dilema de Epicuro, afirma:

Ou Deus quer tirar o mal do mundo, mas não pode; ou pode; mas não o quer tirar; ou não pode nem quer; ou pode e quer. Se quer e não pode, é impotente; se pode e não quer,não nos ama; se não quer nem pode, não é o Deus bom e , além disso, é impotente; se pode e quer - e isto é o mais seguro -, então de onde vem o mal real e por que não o elimina?[1] 

            Quero aqui fazer uma breve avaliação dessa reflexão intrigante de Queiruga sobre a existência do mal e a atitude ou omissão de Deus frente a ele! Para esse pensador a base de avaliação desse paradoxo é a razão humana. Entendo que utilizar a razão para “julgar” Deus e as atitudes que deveria ter, seria próximo de uma criança de dois anos julgar se as decisões da ONU (organização das nações unidas) foram justas ou não! Ainda esse exemplo é bem limitado, com relação à comparação entre nossa razão e o conhecimento de Deus!
A base que utilizarei será a Escritura, por entender que essa é a base segura para entendermos até onde é possível! Pergunto provocativamente: Deus pode tirar o mal do mundo, mas sem entrar em contradição com sua retidão e justiça? Como? Ao enviar seu único Filho para pagar a penalidade do pecador na cruz, e assim, a justiça de Deus Pai poder ser exercida sobre o Filho, que representa aqueles pelos quais Ele morreu! Ao fazer isso, adquire a justiça e reconciliação do pecador com Deus, e progressivamente a imagem de Deus deles é restaurada! Quando Cristo voltar, todo o mal será retirado da humanidade (eleitos), toda lagrima será enxugada de uma vez por todas (Ap 21.4)!
            Existem coisas que Deus não pode fazer! Ele não pode morrer, não pode pecar, não pode agir contra sua natureza! Logo, ele não pode tirar o pecado e as consequências da Queda humana, sem exercer sua justiça! Nesse caso, Ele é limitado por si mesmo, por sua natureza santa, e não por fatores ou forças externas descontroladas e independentes!  Seria justo um grande criminoso que foi condenado à prisão execução ficar em liberdade porque está sofrendo na prisão? Seria justos a libertação dele e o perdão dos seus crimes, porque tem padecido na prisão por causa de doenças, de afrontas, de dores, de cansaço, de tristeza de alma? Mas como qualificaríamos um juiz que desse o seu único filho para substituir esse criminoso, assumindo todas as consequências do crime, que esse substituto nunca cometeu, até a morte? Eu daria um nome: loucura! É exatamente esse nome qualificativo que Paulo dá a essa atitude de Deus ao enviar seu Filho para morrer pelo pecador (1Co 1. 25)! É loucura para os que perecem e não compreendem tamanho e incondicional amor! O mesmo apóstolo afirma (Rm 5. 10-11): Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus, mediante a morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida; e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação.

            Destaco essa parte da reflexão de Queiruga, para depois comentar:
...Se quer e não pode, é impotente; se pode e não quer, não nos ama; se não quer nem pode, não é o Deus bom e , além disso, é impotente; se pode e quer - e isto é o mais seguro -, então de onde vem o mal real e por que não o elimina?

            Como eu disse anteriormente, Deus quer tirar o pecado do mundo, e fará plenamente, para aqueles pelos quais Cristo morreu. Por que não faz por todos os homens? A resposta que dou é uma pergunta: porque salvar alguns homens se não estava obrigado a salvar nenhum? Só reivindicamos alguma coisa, quando temos direito, e esse direito nunca fez parte da nossa realidade caída! Quem pecou, Deus ou o homem? Se o pecado e o mau surgiram, Deus seria o responsável? Se Deus é o responsável pelo surgimento do pecado, então o homem não é um ser livre para tomar decisões! Mas se Deus criou o homem livre para tomar suas decisões, podendo agir contrário sua natureza santa, isso não tornaria o homem responsável pelas ações moralmente má? Se Deus para ser Deus tinha que impedir o homem de tomar decisões moralmente erradas, dando origem ao mal no nosso cosmo, logo, Deus seria um tirando e manipulador da vontade humana, algo que nem Queiruga e nenhum outro pensador liberal aceitaria como verdade!
            Porque Deus sempre é acusado de não impedir o homem de fazer o mal, mas nunca é responsabilizado por ações que o homem tem prazer em fazer e que acha que é bom pra sua vida? É como se o homem dissesse pra Deus: o que me faz mal e o Senhor tem obrigação de impedir que eu faça, se não impedir não mais Deus pra mim! Mas se me exigir de mim obediência ao seu padrão de moral, não é mais Deus para mim! Logo, Deus é Deus de acordo com o que me convém, e não em todo momento e em todas as minhas escolhas e vontades!
            O mal real vem do coração corrompido do homem! Deus não o elimina ainda, porque não existe mal moral sem o homem. Mas chegará um dia que o mal será destruído (não no sentido de inexistência, mas punição eterna para os seus agentes morais), através da punição aos seus agentes morais! E aqueles que se arrependeram e creram em Cristo, serão libertados completamente de todo o mal que ainda fazem parte da sua natureza! A criação nunca mais será amaldiçoada por causa da desobediência do homem! A harmonia perfeita será estabelecida, a justiça plena será manifestada, ao ser manifestado o Cristo, o segundo Adão (1Co 15; Ap 21)!
            Concluo, dizendo que qualquer raciocínio por mais brilhante que pareça desassociado das Escrituras sobre Deus, é um salto para o abismo da ignorância humana! Obviamente, não pretendo resolver a questão paradoxal! Seria uma absurda tolice da minha parte! Contudo, apenas desejei resumidamente provocar uma reflexão sincera e bíblica sobre o tema. Entendo que temos segurança na revelação bíblica do assunto, e não podemos caminhar além das fronteiras dela!
            Se o mal existisse espontaneamente, qual garantia teríamos que no final Deus cumprirá suas promessas redentoras? Tudo poderia mudar completamente, devido o mal ser um “deus”, em oposição ao Deus bom! Deus não seria Deus, se o mal fosse eterno! Deus não seria santo se fosse o causador do mal! Deus não seria soberano se o mal veio a existir sem que tivesse decretado! Ou você acredita na fidelidade da Revelação Bíblica, ou se afunda no oceano da dúvida e da incredulidade!
            Eu faço coro com o apóstolo Paulo (Rm 11.33-36):
     Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.

Márcio Willian Chaveiro




[1] QUEIRUGA, Ándreas Torres Queiruga, Repensar o Mal

4 comentários:

  1. Paz e Graça Pastor Marcio!

    Muito bom seu texto,faço minhas as suas palavras. Deus o abençõe!

    Em Cristo,
    Mário

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  2. Deus tudo criou,os anjos o cosmo o homem, tudo ele sabe, então quando ele fez o homem ele já sabia tudo que aconteceria, não foi uma surpresa pra ele o caminho que Adão escolheu,ele já sabia tudo que aconteceria na humanidade desde a fundação, entao porque tudo isso? Ele já sabia que lucifer se rebelaria, ele sabe tudo porque não evitou, eliminou, porque fez o homem para tudo isso que conhecemos desde os primórdios... sim dizem que se ele fizesse não seria justo, mas justo pra quem, Deus não precisa provar nada pra nada, era só eliminar o mal, evitar fazer o homem evitar toda essa desgraça evitar tudo, e continuar no princípio que é ele...
    Muitas perguntas, poucas resposras.

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