sexta-feira, 10 de julho de 2015

PORQUE NÃO SOU ARMINIANO?

PORQUE NÃO SOU ARMINIANO?
           
Não pretendo com esse tema provocar animosidade nos irmãos arminianos, longe de mim tamanha tolice! Amo esses queridos, discordamos de questões teológicas relacionadas à soteriologia (estudo sobre a salvação) e outros pontos secundários, mas creio que essa discordância não compromete os ensinos fundamentais para a salvação unicamente em Cristo, portanto, defendemos em essência a mesma fé e sã doutrina!
Admiro arminianos piedosos como John Wesley e Charles Wesley, que nas palavras de George Withefield (amigo calvinista dos irmãos Wesleys) ao seu perguntado provocativamente, se quando morrêssemos veríamos John Wesley no céu, respondeu: Não o veremos! Porque ele estará tão próximo de Deus e nós distantes, que não o veremos! Esse calvinista que admirava tanto o seu amigo John Wesley, foi o mesmo que declarou o seu intenso amor por Cristo:
...Oh, se eu pudesse fazer mais por Ele! Oh, se eu fosse uma chama de puro e santo fogo, e tivesse mil vidas para gastar no serviço do amado Redentor...A visão de tantas almas que perecem muito me afeta, e me faz desejar ir de pólo a pólo, se possível, para proclamar o amor redentor.[1]
 Creio que é essa a postura adequada para todo aquele que professa ser um reformado! Não existe espaço para disputas teológicas inúteis e infrutíferas! Que mais promovem os debatedores, do que o Evangelho do Reino!
            Mas você deve esta se perguntando: Se ele diz que esse debate é inútil, porque escrever um artigo sobre esse tema polêmico? A resposta é simples: se creio que as doutrinas chamadas calvinistas estão corretas a luz das Escrituras, tenho por obrigação diante de Deus, dentro da minha limitação, contribuir para a edificação daqueles que creem nessas verdades!
            O tema proposto é uma pergunta: Porque não sou arminiano? Logo, preciso responder adequadamente o máximo que posso nesse pequeno ensaio. Tentarei fazer isso de forma resumida, na única intenção de contribuir para o seu esclarecimento. Vou utilizar a ordem dos decretos apresentada pelos arminianos e procurarei revelar algumas impropriedades logicas e teológicas como argumento para minha “não aceitação” dessa posição teológica:
1.      O primeiro decreto de Deus sobre a salvação do pecador é aquele pelo qual decretou que nomeava seu Filho Jesus Cristo mediador, redentor, salvador e rei (...) Quais as dificuldades nessa ordem? Como nomear a Cristo como Senhor, Salvador, Redentor, sacerdote e rei, se a Criação do homem em estado de perfeição, e a Queda não haviam ocorrido nos decretos? Como ter Salvador, se não existe pecador?
2.      O Segundo argumento deles sobre a ordem dos decretos é: O segundo decreto exato e absoluto de Deus é aquele pelo qual decretou que receberia em favor aqueles que se arrependessem e cressem e que, em Cristo...se cumpriria a salvação dos penitentes e crentes que perseverassem até o fim; mas que deixaria em pecado e sob a ira todos os impenitentes e incrédulos e os condenaria pela alienação a Cristo. O meu argumento é que temos o mesmo problema que foi apresentado sobre o segundo ponto do Remonstrance. A graça é como um presente estático depende do premiado ou receptor abrir o pacote e apertar o botão para funcionar! A fé é algo estático, ou uma ação poderosa de Deus em favor do pecador completamente perdido (Ef 2. 1-10)?
3.      O terceiro argumento sobre o Decreto, no ponto de vista arminiano é: O terceiro decreto é aquele pelo qual Deus decretou que administraria de modo suficiente e eficaz os meios que eram necessários ao arrependimento e à fé... O terceiro aspecto da ordem dos decretos é para mim ainda pior que os anteriores! Por quê? Além de ser oferecido o presente “graça” e depender do homem utiliza-la, ainda Deus se encarrega de preparar todo o cenário para o arrependimento e fé, e mesmo assim, depende em última análise do homem crer e se arrepender!
4.      O quarto e último ponto defendido por eles, sobre os decretos de Deus, são: Depois desses, segue-se o quarto decreto pelo qual Deus decretou a salvação ou a perdição das pessoas. Esse decreto se fundamenta na presciência de Deus, pela qual desde a eternidade ele sempre soube quais os indivíduos que, pela graça (preveniente), creriam e, pela graça subsequente, perseverariam.[2] O quarto aspecto é logico, Deus preparou todo o cenário da graça “proveniente”, e agora sabendo quais crerão e se arrependerá, devido a sua presciência, ele decreta salvar alguns e condenar outros! Nesse caso, existem homens especiais, que vão crer e se arrepender, e homens inferiores que nunca crerão. Eles caem exatamente onde nos acusa, em afirmar que Deus não pode ter elegido alguns e preterido outros, porque isso o tornaria injusto! Deus seria justo em eleger alguns com base em escolhas que esses terão, e enquanto outros não terão, e mesmo assim, Deus não faz nada a mais para que todos sejam salvos? Se o cenário da graça é o mesmo, a condição humana é a mesma, o que leva esses eleitos a crerem? Não seria pelo fato de ter algo diferente neles ou que atua neles? Você tem duas saídas, a meu ver, ou esse grupo de eleitos tem algo intrinsicamente que os diferencia dos demais “incrédulos” e por isso creem, arrependem e perseveram até o fim, ou é Deus quem coloca algo neles que os transformam para ver a realidade? Nesse último caso, os arminianos teriam que deixar de serem arminianos e abraçar a fé calvinista!
Preciso esclarecer que o termo “decretos” no plural não faz jus ao que realmente significa Decreto. Por quê? Porque o decreto é um ato único no ser de Deus e não uma sucessão de decretos, usamos no plural para acomodar a nossa pequena e frágil compreensão, que é limitada pelo tempo e espaço. O conhecimento de Deus é todo imediato e simultâneo, e o decreto que nele está envolvido é também um ato compreensivo e simultâneo, esclarece Berkhof.[3] Significa que Deus conhece todas as coisas não em processos ou previsões, mas de imediato e simultâneo, e seus decretos abrange tudo ao mesmo tempo!
·         O conhecimento de Deus precede o decreto, é um conhecimento livre de qualquer influência externa, até porque na eternidade não existia nada externo a ele! O decreto é necessário em Deus, pois se Ele não tivesse decretado nada aconteceria, logo, decreto é essencial em Deus.
·         Os decretos são incondicionais, não dependem de nada ou de qualquer criatura. Os decretos envolvem as criaturas, mas não dependem delas. A incondicionalidade dos decretos não exclui os meios, porque tanto os meios como os resultados fazem parte dos decretos. A lei de causa e efeito foi estabelecida por Deus para o exercício de sua providência.  As execuções dos decretos estão interligadas um ao outro pela sabia vontade e providência de Deus. Significa que os Decretos são incondicionais, contudo, os eventos não, eles interdependem para o cumprimento do plano eterno.[4]
·         Os decretos não são violações da vontade humana: os homens não são forçados ou manipulados por Deus como marionetes a fazer o que Ele determinou. Mas sabiamente, e soberanamente, Deus decretou as coisas de tal forma que o homem sempre fará o que foi decretado sem que sua vontade humana seja violentada, eis o grande mistério que ultrapassa a nossa capacidade de compreender, como anteriormente foi dito!
Quero comentar um pouco mais sobre esse último ponto, por causa da sua importância para nosso ponto. Vamos pensar o contrário do que tem sido defendido pelo calvinismo, o homem tendo uma coparticipação determinante na sua salvação. Se o homem pode de alguma forma buscar a Deus, significa que a Queda não o afetou completamente, e que de alguma maneira ele pode tornar-se justo diante de Deus por seus esforços! Sendo assim, a salvação não seria completamente pela graça, mas dividida com os méritos humanos.

Considerações Finais
Portanto, é bom esclarecer que na minha limitada opinião, essa discussão da ordem dos decretos é inútil a fé! Obviamente, discordo completamente da ordem apresentada por Jacó Armínio, mas entendo também que a discussão dentro do calvinismo sobre essa ordem é desnecessária porque não existiu uma “ordem cronológica nos decretos”, não existem decretos, mas decreto, então, porque discutir sobre algo que não existe no ser de Deus? Os decretos é Decreto no ser de Deus! Não existe sequencia, etapas, momentos, apenas o decreto! Não seria isso um ranço do “escolaticismo medieval”? Essa discussão é muito mais filosófica do que teológica.  A discussão é justa sobre a base da presciência e eleição, se ela é fundamentada nos decretos ou a previsão de Deus, mas não nas “etapas” dos decretos! Por isso apresentei as incoerências no fundamento da crença arminiana acerca dos decretos. Inutil discussão pra mim é sobre as divergências na ordem dos decretos dentro do calvinismo.[5]
O próprio João Calvino comentou sobre essa curiosidade que muitos têm de entrar em terreno misterioso, nos decretos eternos de Deus, como se fosse possível fazer tal coisa, o que revela sua tolice!
     A curiosidade humana torna a discussão da predestinação, já por si de certa forma difícil, muito confusa e até perigosa. Limitação alguma pode impedi-la de vaguear por caminhos proibidos e arrojar-se para as alturas. Se lhe fosse possível, não deixaria segredo divino que não fosse sondado e esclarecido. Desde que vemos muitos, de todos os lados, arrojando-se nesta audácia e atrevimento, entre os quais alguns que de outro  modo não são maus, importa que sejam, no devido tempo, lembrados da medida do seu dever nesta questão. Primeiro, que se lembrem que quando perscrutam a predestinação está penetrando nos recintos sagrados da sabedoria divina. Se alguém irromper nesse lugar com confiança despreocupada (sem o devido cuidado) não conseguirá  satisfazer sua curiosidade e entrará num labirinto do qual não achará saída. Pois não é correto que o homem procure  desenfreadamente perscrutar aquilo que o Senhor desejou ficasse escondido em Si mesmo; e esquadrinhar, desde a própria eternidade, a sublimidade da sabedoria que Ele quis que adorássemos, mas não que compreendêssemos, para desse modo nos encher de admiração. Os segredos de Sua vontade que Ele decidiu nos desvendar, revelou-nos em Sua Palavra. E estes Ele decidiu revelar até onde previu nos dizer respeito e ser de nosso proveito (Institutas, III, xxxi,1).[6]

o   A Predestinação e Suas Implicações Lógicas e Práticas
Crer na predestinação é tido como acreditar que Deus é um ditador, um tirano cósmico! Contudo, quando olhamos para a predestinação pelo ângulo correto, ou seja, a partir do Deus soberano e não do homem para Deus, concordamos que Ele para ser Deus tinha que ter domínio absoluto sobre tudo que criou. Todavia, esse domínio não implica em violentar a vontade ou as escolhas dos seres morais, mas que essas escolhas estejam de acordo com o seu plano eterno! Eu acredito que crer nessas duas grandes verdades: Soberania de Deus e Responsabilidade Humana, é como utilizar boias salva vidas no meio do oceano! Sem elas, nos afundamos em heresias, porém, não podemos querer explicar o que a Bíblia não explica. Não explica porque não podemos suportar a explicação devido a nossa limitação!
Outro aspecto que é comumente utilizado para desconsiderar a predestinação, é a afirmação: Se sou predestinado não preciso fazer mais nada, posso pecar a vontade e não perderei a salvação! Nenhum texto que ensina predestinação na Escritura ensina que isso isenta a nossa responsabilidade de nos santificar, por exemplo Paulo diz em Efésios 1.4: assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele, em amor. Escolhidos para ser irrepreensíveis, o que é isso?  Santificação progressiva! O crente verdadeiro, que é predestinado, nunca pensará desta forma (Rm 6)! Sempre lutará contra o pecado em seu íntimo, porque sabe que não é merecedor de nada, e, portanto, sendo um salvo pela graça, precisa viver dignamente do amor redentor de Deus! Seu esforço não é para obter a salvação, pois Cristo já a obteve por ele, mas deseja seguir a Cristo em santificação por amor e gratidão (1 Jo 2.6).
Alguns afirmam: Se existem os predestinados não preciso evangelizar, porque no final serão salvos! Temos que evangelizar porque é ordem de Deus para todo crente verdadeiro e não por causa dos perdidos! Sei que isso soa estranho para as pessoas, porque dedicam muito mais amor ao homem do que a Deus! Todavia, a Bíblia nos ensina que pregar o Evangelho (Sl 96; Mt 28. 18-20; At 1. 8) é uma ordem e não uma opção para o crente. Assim como orar, meditar na Bíblia, santificar, ter comunhão, participar dos sacramentos, são ordens, e meios de glorificar a Deus, o evangelismo é um meio de glorificar a Deus! Portanto, o eleito glorifica a Deus pregando o Evangelho, e aqueles que foram destinados para a salvação ao ouvirem serão transformados pelo poder do Espírito Santo de Deus (At 16. 14). A salvação dos eleitos é certa, mas os meios para que sejam alcançados também, ou seja, a pregação do Evangelho! Alguém foi destinado a pregar para aquela pessoa que será salva! Não sabemos quais são os eleitos e nem onde estão, logo, precisamos pregar a todos os homens para que alguns sejam salvos. Paulo estava desanimado em Corinto, mas Cristo o animou e disse (At 18. 10): porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade. Qual foi a atitude de Paulo? Ele ficou descansando esperando que esse povo de Cristo fosse convertido? Não, ele pregou o Evangelho (At 18. 11): E ali permaneceu um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus. A fé vem pelo ouvir da Palavra de Deus (Rm 10.17).
A negação dessa preciosa doutrina não é por causa de algum conflito com a Escritura, mas com a mente humana, que é rebelde ao senhorio de Cristo! Quando compreendida corretamente, o nosso coração se enche de jubilo, gratidão, e reconhecimento de nosso total imerecimento! Mas quando enxergarmos que de alguma forma merecíamos a salvação, o orgulho e arrogância disfarçada de piedade, domina o nosso ser!
Concluo dizendo que não sou arminiano porque não encontrei nenhuma razão bíblica, lógica e teológica para me tornar um! Se eu fosse convencido pela Escritura que estou errado em minhas convicções, seria o mais ardoroso defensor do arminianismo! Contudo, continuo enfatizando que o espírito do presente artigo não é atacar a espiritualidade dos arminianos, porque é possível ser santo, mesmo com convicções equivocadas sobre questões secundárias da fé!
Márcio Willian Chaveiro




[1] DALLIMORE, Arnold A. Dallimore, George Whitefield, PES, 2005, p. 187
[2] http://www.arminianismo.com/backupsite/index.php/categorias/diversos/artigos/44-roger-e-olson/1331-roger-e-olson-os-arminianos-tentam-reformar-a-teologia-reformada
[3] BERKHOF, p. 103
[4] SANTOS, João Alves dos Santos, Os Decretos de Deus, apostila não publicada, p.02
[5] Existe uma discussão calvinista, em minha opinião, inútil sobre a ordem dos decretos, intitulado como Supralapsarianismo e Infralapsarianismo. Calvino nunca usou esses termos, embora alguns defendessem que ele era supralapsariano. Porém, quando você faz uma leitura das Institutas, perceberá que em certos momentos Calvino parece ser caracterizado por uma linha e outras vezes por outra linha. Mas, foi seu discípulo, Beza, que fomentou essa discussão devido ao contexto de disputa com os discípulos de Armínio. Vou expor a definição de cada um apenas para informar sobre a existência deles, sem ter a intenção de defender um ou o outro.
[6] ALVES, João Alves dos Santos, A Doutrina de Deus, Apostila não Publicada, p.19

2 comentários:

  1. A conclusão do seu artigo é: Eu estou certo e vcs errados!
    Como assim???

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  2. A minha conclusão é que a Escritura está certa e toda opinião teológica deve ser avaliada por esse crivo.

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