O Bispo Edir Macedo da Igreja
Universal, em uma de suas falas disse que o primeiro milagre operado por Jesus,
em Caná da Galiléia, foi sem sentido e sem proposito![1] Esse
líder chegou a um nível “espiritual”, que pode até mesmo julgar a necessidade
das ações de Cristo! Essa declaração tola desse líder religioso revela a
ignorância da maioria das pessoas que leem essa passagem. Muitos crentes ficam
confusos quanto ao significado desse milagre, e outros tentam alegorizar essa
passagem para impor sentidos ao ocorrido em Caná. Mas o que realmente esse
milagre operado por Jesus revela? Será que Jesus foi constrangido por sua mãe a
realizar esse ato milagroso, quando ele diz a ela (Jo 2.4): ... Ainda não é chegada a minha hora. Esses
e outros aspectos na passagem serão abordados aqui.
Três dias depois, houve um
casamento em Caná da Galiléia, achando-se ali a mãe de Jesus. (2.1)
Para
interpretarmos qualquer passagem bíblica é preciso ter uma visão do contexto
imediato anterior e posterior, com suas conexões logicas, apresentadas pelo
autor. João liga imediatamente esse casamento ao que aconteceu antes, a
conversa de Jesus com Filipe e Natanael (1. 43-51), quando utiliza a expressão
(2.1): Três dias depois,... O que
podemos destacar da conversa de Jesus com Natanael é o que encontramos nos
versos 50-51:...porque te disse que te vi
debaixo da figueira, crês? Pois maiores cousas que estas verás...Em verdade, em
verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo
sobre o Filho do homem. O que isso significa? Os sinais que Jesus faria a
partir daquele momento serviriam para revelar que ele é o Cristo prometido do
Antigo Testamento, conforme o apóstolo João confirma no final do Evangelho:
Na verdade,
fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos
neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o
Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
(20. 30-31)
A
resposta de Jesus a Felipe e a Natanael e a afirmação de que ele é a escada da
visão de Jacó, é uma citação de Gênesis 28.12, quando esse patriarca viu a
escada que ligava a terra ao céu, e os anjos desciam e subiam sob ela. Aquela
visão de Jacó, tipificava Jesus, que é o Mediador entre os homens e Deus. Jacó
teve seu nome alterado para Israel, e a partir dele formou-se a nação de
Israel, que tipificava Jesus. Logo, Jesus esta afirmando para Natanael que Ele
é o novo Israel de Deus, no qual todas as profecias se cumprirão! A primeira
vinda de Cristo inaugura a Vinda do Reino de Deus sobre a terra, o que é
chamado de era messiânica.
Jacó
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Escada
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Israel
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JESUS
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Reino
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Luta com o Anjo do SENHOR que é Cristo no Antigo
Testamento
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Tipifica a Cristo
|
Tipifica a Cristo
|
Cumprimento da tipificação
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O Reino do Messias é implantado
|
O
capítulo 3 narra a conversa de Jesus com um mestre da Lei que não havia
entendido que Jesus era o Messias e que o Reino de Deus já havia chegado. Nessa
conversa com Nicodemus, o Senhor Jesus diz a ele que é necessário nascer
novamente para enxergar o Reino de Deus (3.3):...Em verdade, em verdade te digo que, se
alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Tanto Felipe,
Natanael e Nicodemus, precisam saber é que Jesus é o Cristo, e o Reino de Deus
foi implantado com sua vinda! E tudo que ele realizar tem o proposito de
revelar essa verdade. Logo, o milagre em Caná da Galiléia é o inicio da
manifestação dessa verdade!
Jesus também foi convidado, com os
seus discípulos, para o casamento. (verso 2)
Os
discípulos aparecem na narrativa, foram convidados para o casamento: Jesus, Maria, e os discípulos. Jesus
esta discipulando os seus discípulos através de mensagens, ações e milagres. Cada
acontecimento e palavra é uma escola, um instrumento de aprendizado para eles,
logo o milagre que esta para acontecer, servirá para ensina-los sobre o caráter
messiânico de Jesus, conforme o verso 11 mostrará.
Tendo acabado o vinho, a mãe de
Jesus lhe disse: Eles não têm mais vinho. Mas Jesus lhe disse: Mulher, que
tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.
(versos 3-4)
Essa
talvez seja a parte mais difícil de interpretar do texto! Vou destacar alguns
pontos para tentar clarear o ensino da passagem:
o Pela
narrativa, podemos deduzir que Maria tinha algum parentesco com o noivo, porque
a sua preocupação com o fim do vinho, revela isso!
o Ela
provavelmente tinha alguma função ligada a distribuição de comida e vinho!
o Uma festa
de casamento naquela época durava uma semana, era tudo por conta do noivo, e se
o vinho acabasse, seria uma tremenda vergonha para ele!
o Logo,
podemos entender a preocupação de Maria!
Porque
ela recorre a Jesus para resolver isso? Ele era o primogênito, tudo indica que
José havia morrido, e ele cuidava da sua mãe em lugar de seu pai. Maria já
estava acostumada a recorrer a ele para resolução de problemas como esses, o
que era totalmente natural para ela como mãe e viúva. E Jesus certamente
honrava sua mãe, como a Lei dizia que um filho deveria honrar e sustentar,
naquele contexto! No entanto, o texto revela que Jesus começa aqui a se
desvincular dessa relação materna, devido ao estabelecimento do Reino de Deus,
e a maior obrigação dele, que é obedecer totalmente a vontade do Pai. Em outra
ocasião, Jesus deixou claro quem faz parte da sua família (Mt 11. 46-50):
Falava ainda Jesus ao povo, e eis
que sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora, procurando falhar-lhe. E
alguém lhe disse: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar-te. Porém,
ele respondeu ao que lhe trouxera o aviso: quem é minha mãe e quem são meus
irmãos? E, estendendo a mão para os discípulos, disse: eis minha mãe e meus
irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é o meu
irmão, irmã e mãe.
Esse
texto deixa claro que Jesus não considera o vínculo genético entre ele e sua
mãe e seus irmãos, como uma condição para fazer parte do Reino de Deus, mas a
única condição de ser da sua família é fazer a VONTADE DO PAI! Quando Jesus
tinha apenas 12 anos, falou a Maria e a
José, que o que o guiaria em tudo seria
a Vontade do Pai (Lc 2. 49): Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis?
Não sabeis que me cumpria estar na casa do me Pai? Todavia, é importante
afirmar que Cristo honrou sua mãe até a cruz, quando se desfaz completamente da
sua responsabilidade de filho primogênito, transferindo para o seu discípulo
amado, João:
Junto a cruz estavam a mãe de
Jesus, e a irmã dela, e Maria, mulher de Cléopas, e Maria Madalena. Vendo Jesus
sua mãe e junto a ela o discípulo amado, disse: Mulher, eis aí teu filho.
Depois, disse: mulher, eis aí teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua
mãe. Dessa hora em diante, o discípulo a tomou para casa.
(Jo 19. 25-27)
A
Repreensão de Jesus a Maria pode parecer uma grosseria à luz da cultura pós
moderna do nosso século! O texto afirma (2.4):
Mas Jesus lhe disse: Mulher, que
tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Mas como ele deveria se
dirigir a sua mãe para a corrigir? - Mamãe, não é você que determina o momento de
apresentar o meu primeiro sinal de que sou o Cristo! Ou: - Senhora, não você
que decide o momento! A expressão “mulher”,
sendo lido por nós no século XXI parece rude demais, mas não foi! Um erro muito
comum é quando queremos interpretar e julgar a Bíblia a partir da nossa
perspectiva cultural e não no contexto bíblico em seu contexto social e
cultural. A forma de abordar de Cristo não foi “sem educação” ou “rude demais”, ele apenas corrigiu sua mãe sobre
um erro “ingênuo dela”, de achar que podia dizer a ele quando realizar o
primeiro milagre!
O que
significa Jesus dizer: ...Ainda não é
chegada a minha hora. O que orientava a Jesus a tomar decisões e a fazer
sinais era a Vontade do Pai. Esse princípio deveria ficar claro para Maria e
para os discípulos. Outro aspecto que precisa ser entendido é que esse primeiro
sinal aponta para uma realidade última, que é a glorificação de Cristo. Como? Jesus
é o noivo, o próprio João Batista afirmar isso no capítulo 3. 28-30. A Bodas do
Cordeiro ainda serão realizadas e consumadas, entaõ, aquele acontecimento
apontaria para esse momento final, a festa eterna do casamento do Cordeiro com
sua noiva, a igreja! Jesus muitas vezes utiliza de uma pergunta, uma fala, um
acontecimento, que aparentemente tem pouco significado, para mostrar que existe
uma amplidão muito maior. Maria certamente não tinha nada disso em mente,
apenas desejava que o Filho que resolvesse para ela naturalmente ou
sobrenaturalmente aquele problema. Mas Jesus a exorta dizendo que quem
determina a sua “hora” tanto de início de manifestação da sua glória como da
consumação da final, é o Pai somente!
O
milagre de transformação de água em vinho foi um sinal que manifestou a glória
de Cristo 11! Essa glória começou a ser manifestada por meio desse milagre, mas
não terminaria ai, seria progressiva, até ressurreição e glorificação de
Cristo, sendo que a última revelará o
ápice de tudo isso! Portanto, esse milagre inicia um trajeto de manifestações
gloriosas do Verbo de Deus! O que esse milagre aponta é para a consumação de todas as coisas, quando o
Cordeiro se revelar glorioso como um noivo ao encontro da sua noiva, a igreja!
Considerações Finais
Concluo
dizendo que esse milagre revela a glória do Verbo de Deus, cheio de poder e
graça! Não é um milagre sem sentido, sem propósito, é o início dos sinais que
apontariam claramente para a messianidade de Jesus! Essas ações sobrenaturais
do Senhor Jesus não eram feitas por fazer, foram realizadas com propósitos bem
definidos e estrategicamente manifestados para revelar ao mundo que o Messias
chegou! Um dia teremos uma festa de casamento que nunca mais acabará o bom
vinho!
Jesus
era totalmente guiado pela Vontade do Pai, e jamais pela vontade de sua mãe!
Maria era uma mulher piedosa, contudo, sabia do seu lugar, como serva de
Cristo, como ela mesma declarou ao saber que estava gerando o Messias (Lc 1.
46-50):
Então,
disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em
Deus, meu Salvador, porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde
agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, porque o Poderoso me
fez grandes cousas. Santo é o seu nome. A sua misericórdia vai de geração em
geração sobre os que o temem.
Reverendo Márcio Willian Chaveiro
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